Esse sonho aconteceu em novembro de 2007, meu pai havia sonhado algo estranho, ele é um cara bem simples, é comerciante e trabalha a noite administrando um bar em sociedade com meu tio, sendo assim no dia anterior tínhamos assistido um filme sobre vampiros, muito ruim por sinal, mas foi até bom ter assistido o filme. Caso o mesmo fosse muito intelectualizado meu pai dormiria, não conseguindo entender menos que o esperado. Pois bem, meu pai na tarde seguinte relatou-me um sonho com vampiros, fiquei curioso para saber. Então foi assim:
"Filho, ontem a gente viu um filme sobre vampiros daí adivinha... sonhei com uns caras estranhos no meu bar, já fiquei 'cabreiro', mas fiquei na minha." - disse meu pai.
"Conte mais, quero saber os detalhes." - eu aguardava a continuação.
"Sonhei que era madrugada, chegaram dois caras, um de estatura mediana e forte e outro mais alto e magro, os dois estavam usando roupas pretas fechadas, também tinham sobretudos e calças de couro, e a noite estava quente. Pensei que deviam ser roqueiros vindos de alguma casa de show de São Gonçalo ou talvez fosse o povo daqui, que volta do Rio de Janeiro quando tem shows por lá." - meu pai se concentrou em explicar detalhes, estava sério e eu curioso.
"Os caras pediram cerveja e sentaram quietos na mesa, ficaram quietos fingindo que estavam bebendo, mas não fiquei encarando, só achei estranho... pareciam esperar algo. Continuei lucrando com as bebidas e petiscos e parei de encarar os homens estranhos. Eles tinham peles muito brancas, o tipo de pele deles era esquisito, não parecia pele comum, lembrava uma borracha fina e clara, sei lá, devia ser maquiagem de artista, tipo Kiss e Secos e Molhados." - eu ri do comentário sobre as maquiagens, ainda mais por saber que meu pai não simpatiza muito com o Ney Matogrosso.
"Os caras ficaram olhando o pessoal no bar, os olhos deles eram esquisitos e eles tentavam esconder algo na boca, pareciam que tinha comido algo com gosto ruim. Não entendi nada e continuei a lavar os copos." - prosseguiu meu pai com a história.
"Aqueles caras esquisitos finalmente beberam a cerveja, um pouco quente naquele horário, depois umas vagabundas chegaram, tinham roupas bem indecentes, eram meio 'rampeiras', mas até que tinham bom corpo, não sabia se eram 'professoras da madrugada' ou 'piranhas'. Elas sentaram na mesa deles e começaram a conversar, quando fui botar mais cerveja para eles um dos caras olhou para o meu pescoço, não gostei daquilo.
Pensei: 'vai manjar grossura do pescoço de outro homem, porra!' Logo eles conversavam e bebiam com as mulheres, até aí tudo bem." - meu pai riu com o comentário e eu ri daquela cara séria falando bobagem.
"Filho, os caras tinham cultura, falaram cada coisa bonita pras vagabundas que elas ficaram cheias de vontade de sair com eles, mas já tinham bebido bastante, estavam um pouco bêbados, mas elas estavam bem mais 'bebas' que eles. Eles eram estranhos, eu senti que eles eram vampiros, no sonho senti uma energia estranha, um mal-estar e uma certa agonia, parecia medo, mas era inédito pra mim. Não me senti bem quando o mais forte me encarou, senti que ele queria me ludibriar. Ele não conseguiu me dominar. Ele devia ter algum poder mental de vampiro, vi isso nos filmes." - meu pai ficou mais sério e eu fiquei aguardando o resultado da história do sonho.
"O outro vampiro mais magro tinha olhos castanhos, eles tinham um estranho brilho avermelhado enquanto ele andava, estava abraçado a uma das moças da mesa. Levantou com ela e foi até a máquina de música, botou um rock do Black Sabbath e ficou dançando, mas a moça parecia não gostar de rock e pediu funk.
Ele disse que conhecia um tal de 'fuck' e riu, não entendi a piada. O outro vampiro riu com da cara da moça, mas ela não percebeu que ela era a piada." - ele conteve um riso ao relatar a cena.
"O outro mais forte começou a beijar a moça na minha frente há poucos metros da máquina, depois ficou me encarando como se quisesse se mostrar o machão que agarra a mulherada. Que cara babaca. Igual a ele tem mais de 40 cornos no meu bar toda a semana." - ele riu ao contar sobre o vampiro.
"Depois cada um estava com uma das mulheres e foram sair do bar, foram sair de fininho para não pagar a conta. Eram 10 cervejas e um pratinho de azeitonas pretas, coisa barata, acho que não chegava a 30 reais de conta." - ele ficou mais sério.
"Não suportei a cara que os dois fizeram ao olhar para mim, mostraram uma boca cheia de dentes com caninos grandes e afiados e senti um calafrio, fiquei levemente zonzo e disseram para mim que eu esquecesse a conta. Que era melhor deixar tudo pela boa amizade pois a vida é curta." - meu pai ficou mais sério e agora um pouco irritado, pois odeia caloteiros.
"Filho, quando o vampiro mais forte disse isso e o mais magro riu e repetiu: 'pela camaradagem meu caro dono de bar, pela camaradagem(...)'. Fiquei puto, peguei um taco de 'basebol' que ficava atrás do balcão e pulei o balcão para bater nos dois. Bati muito no mais forte e o mais fraco tentou me desarmar, mas tomou um 'coice' no saco e ficou com a voz fininha. Sabe... Vampiro também tem saco e deve doer como na gente. - ele estava com uma mistura de raiva e entusiasmo pela narrativa da luta.
"O vampiro mais forte ficou todo machucado sangrando caído no chão, o segundo fez umas unhas longas e veio pra cima de mim para me arranhar, mas como não gosto desses travestis 'unhudos' da madrugada dei uma porrada certeira no meio da cara do puto. Foi que nem uma sinuca: ele veio com a cara como se fosse uma bola tentando avançar em mim com as garras pra frente, dei uma tacada reta no meio da cara do miserável, ele caiu." - ríamos com a história, nem os poderes vampíricos detiveram a cobrança de um dono de bar.
"O mais forte tentava se levantar quando disse que eu deveria estar dominado por eles, mas falei que homem nenhum domina o papaizinho aqui. O cara tava com a testa e a boca sangrando, foram duas pauladas bem dadas, estava tonto mas já era para estar desmaiado como o outro. Fiquei parado esperando eles levantarem, quando levantaram peguei os dois pelas golas do sobretudo e chutei os caras, primeiro o menor, depois o grandão. As mulheres ficaram assustadas com aquilo e começaram a querer defender os babacas." - eu ria com aquela descrição, devia ser uma cena engraçada, meu pai batendo sozinho em dois vampiros com um taco de 'basebol'.
"Mandei as vadias pro inferno. Disse que ninguém sai do meu bar sem pagar. Então se elas querem homens para bancar putaria seria bom que procurassem os que pagam as contas em dia, pois caloteiro é raça safada. Os caras já estavam de saída, então voltei até eles e peguei as carteiras deles." - ríamos com a história e as caretas do meu pai imitando os vampiros e vadias.
"Aqueles vagabundos e putas foram expulsos por mim, peguei a carteira dos esquistiões quando ficaram caídos na calçada. Eu disse a eles: 'vocês vão embora, a grana fica no caixa. Joguei as carteiras sem dinheiro em cima deles, eles começaram a se levantar para ir embora. A perturbação acabou." - meu pai acabou de relatar mais uma coisa importante para quem é dono de bar na noite.
"Então pai, como acabou seu sonho?" - eu estava ansioso, sentia que vinha mais uma "pérola" típica dele.
"Antes deles irem embora eu gritei firme: 'no meu bar não importa se você é homem, mulher, viado, sapatão, traveco, fantasma, anjo, demônio ou qualquer outra coisa. Você paga a conta ou apanha. Vampiro também paga conta no bar!" - assim meu pai encerrou sua narrativa onírica.
- Mensageiro Obscuro.
Março/2008.
Foto: Bento Carneiro, personagem vampiro brasileiro criado pelo ator Chico Anysio.
Adorei a narrativa ficcional! Muito bem escrita e criativa. Seu pai entendi de histórias de vampiros. rs
ResponderExcluirRetribuindo sua visita ao Desenvagetados.
Abraços!
Andréa de Azevedo.