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Pesquisa no Abismo

Minha Arte

Mensageiro Obscuro é um escritor performático que possui um espetáculo solo no qual recita textos utilizando vestuários exóticos, maquiagens e outros recursos criados por ele. Escreve prosas poéticas, poesias, contos, crônicas, pensamentos, frases e experimenta outras formas de escrita.

Seus principais estilos e temas em suas obras são: aventura fantástica, realismo fantástico, autobiografia, onirismo, ultra-romantismo, simbolismo, drama, horror e suspense, ocultismo e misticismo, mitologias, filosofias, surrealismo, belicismo, natureza, comportamento, erotismo e humor.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Troféu Surreal

Esmurrei um padre pegando sua idolatrada cestinha transbordando de fé verde, vandalizei o quadro vermelho do ditador gigolô com anarquia preta, também destruí os cabos transmissores daquela emissora televisiva e ainda arranquei umas máscaras sangrantes rindo copiosamente.

Au, Au, ou... ou! Chutei a poltrona, manquei feio. Onomatopéias...

O arame farpado prendeu e rasgou um idiota que insistia em babar fezes enquanto resmungava ferido e amedrontado no quintal. Eu não tenho pena, não tenho mesmo. Que se exploda meu cinismo e sujeira moral, assumo mesmo: te desci a porrada!

Te amarrei para assistir sua desgraça, solei em meu baixo elétrico chorando e gritando desesperadamente e duas cordas grossas de metal arrebentaram cortando seu rosto.

Scarrf! Escarrei uma goma grossa e visceral que te encapuzou nessa podreira toda. Cuspi, sim senhor e foi fodido, você quase se sufocou no meu catarro.

Bati palmas e gargalhei do teu medo, pois te odeio, é puro sadismo meu. Pausa para meu riso! Eu quero rir, cacete! Ha, ha, he, he. Satisfeito!

Posso falar mais alto? Posso sim! Nenhum babaca vai me impedir, não podem te ouvir gritar! Eu tenho o megafone e seus ouvidos vão estourar com minha histeria!

Pingue, escorra nesse show desgraçado onde gerarei insanidade com tanta vodka na idéia, vou colocar a culpa nessa cachaça. Tá, eu sei que não é cachaça, trepe com o gargalo!

Eu mato e torturo mesmo, eu te torturei e matarei mesmo na insônia voraz que me prostitui nessa merda fedida. Qual é a tua? Diz pra mim!

Só na minha cabeça você existe. Pare de chorar, é o fim!

Engulo risonho a chave para minha fuga, fico trêmulo com minha confissão amassada na mão, então rasgo o chão para longe do meu rastro rubro. Eles chegarão para nos recolher, mas não se preocupe, você não foi escondido, sua cabeça está nessa mão e já finquei teu corpo como troféu no portão de casa. Enrolei eles  no telefone por meia hora dando um prejuízo, e agora eles querem me exibir e já estou devidamente trajado para isso.

- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.

Foto: "Bloody Trophy", troféu feito de sangue humano e sangue animal por Thyra Hilden e Diaz.
Portal da artista: Thyra Hilden

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Romance Arriscado

Mesmo que estejamos fisicamente distantes estarei emocionalmente próximo,  sei que não sou o mais romântico dos seres e talvez eu não tenha as palavras certas para lhe cativar o entendimento de parte do que se passa em mim, não tenho domínio dessa empatia. Desejo-te pelos meus sentidos  e pensamentos que voam pelas doces e amargas nuvens que engulo durante minhas jornadas, simultaneamente enquanto estou em sua presença. Fingiremos que o tempo parou, que não temos expectativas, que somos inocentes descobrindo o amor pela primeira vez, assim seguiremos, ignorando a inconveniente existência de obstáculos entre nós.

Nesse tempo restante assistiremos o pôr do sol e dormiremos antes que ele se erga novamente, celebrando nossos momentos passageiros como se fossem os últimos. Num encontro entre o etéreo e o material negaremos a cobrança de certezas nessa vida tão incerta, onde  mora a efemeridade existencial que tanto nos fere, ainda nos proporciona prazeres na persistência da convicção. Sejamos então corajosos para nos afundar nessa experiência na qual a virtualidade e realidade revelam nosso romance arriscado, que de tão incógnito nos fascina e envolve.

- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.

Foto:  Cena do filme "Asas do Desejo" (Der Himmel über Berlin) de 1987.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sabor da Guerra

O rubro sabor da guerra
está em meus lábios,
teu medo virou banquete.

Tua agonia sustenta
meu desejo de caça,
estou acima de tua sombra.

Observo teus movimentos
e logo conhecerás meu poder
em rasgar-lhe a carne.

Sou o terror que corre
enquanto teus ossos quebram,
tu esfriarás em minha lança.

- Mensageiro Obscuro.
Agosto/2009.

Foto: "Crusades - The Massacre of Antioch" por Gustave Doré.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Serenata Mortuária

O silêncio era a existência de leves murmúrios de folhas secas nas noites silenciosas, os sussurros misturavam-se à escuridão, fazendo o vento frio ao ouvido passar de um lado ao outro. A paz era firme naquele bosque gélido, animais fugiram assustados sem nenhum motivo aparente, algo estava perto, o que era eu não sabia. Pensei no ápice de minha solidão naquele local misterioso sobre onde estariam os amáveis brilhos das luzes e por qual razão o céu tão escuro não me revelava a intensa prata lunar. Que segredos guardavam esse lugar pelo qual caminhei? Eu filosofava amando aquela beleza tão sombria, aqueles encantos tão marcantes que me tornavam parte daquele local de uma forma inexplicável. Queria conhecer mais, queria ser parte daquele solo, flora, fauna, vento, água e tantas outras coisas que compunham o cenário de uma beleza noturna.

Pensei e mais perguntas e dúvidas vieram junto com o medo, senti uma baforada quente ao pescoço e vi um vulto correr veloz como um fantasma afoito, seu barulho cessou, voltei ao meu caminho, um tanto assustado, mas ainda curioso em sair daquela mata. Inesperadamente fui arrancado do chão e sucumbindo ao pânico fui arrastado árvore acima... meu pescoço foi rasgado, senti-me escoando em jorros, lentamente uma fera sugava meu sangue. Fui atacado por um vampiro ou demônio? Não importava. Fui mais uma nota nessa serenata mortuária, novamente veio o silêncio da noite.

- Mensageiro Obscuro.
Outubro/2006.

Foto: "Death as a Cutthroat" de Alfred Rethel (1851).

domingo, 27 de junho de 2010

Incógnitas da Personagem

Erguemos nosso pequeno império
com valores tão intensos,
fixos como cicatrizes fundas
rabiscadas como lembrete.

Vivi doces enganações sensoriais
em seu paraíso tão secreto,
onde a realidade se revelava
a partir da sombra da dúvida.

Minha caneta trêmula correu,
garrafas geladas reluziam o litoral
acompanhando-me no breve luto,
a fortaleza ruiu aos meus ouvidos.

Descobri incógnitas da personagem,
ela virou uma página passada,
novas lágrimas não cairão,
pela quebra da máscara que amei.

- Mensageiro Obscuro.
Janeiro/2009.

Foto: Imagem sem referências cedida por minha amiga Anaphylaxxya.
Blog da Anaphylaxxya: Em Busca da Risada Perfeita

terça-feira, 22 de junho de 2010

Turbilhão de Emoções

Sou um emaranhado de sentimentos, uma mistura de ações e reações; tantas dúvidas entre tantas certezas fizeram a colcha de retalhos que de tão mesclada virou algo incógnito. O peão gira como minhas emoções nessa roleta russa existencial, logo caminho e até corro entre tantos rodopios insanos nessa espiral. Sigo essa aleatoriedade, completamente impetuoso e empírico nesses breves momentos de minha curta existência. Vivo momentos nos quais os instintos afloram hibridamente embebidos em fortes palpitações interiores, capazes de me atirar como uma flecha rumo ao alvo de experiências desconhecidas. A contínua roleta de prazeres e dores gira tão ativa em mim, gira tão ensandecida que por vezes me entorpeço nas escalas dessa energia trôpega.

Sinto aos poucos o descobrimento mais profundo do amor, ódio, alegria, tristeza, perdão, rancor, paz, guerra, otimismo, pessimismo, antecipação, paciência, serenidade, agitação, êxtase, terror e tantas outras nuances que espalham-se no fundo de minha mente. Vivo e persisto entregando-me a esse vício de conhecer diferentes coisas, e arrisco experimentar tantas emoções que saltam de mim tão ávidas por sua revelação. Da decadência ao apogeu eu me entrego nos dias e noites dessa efemeridade, então não morrerei com o amargo fel da inércia escorrendo pela boca, pois me aprofundo nas reticências da continuidade.

Esta é a vida, melhor ou pior não pode ser, pois este ato de ser falho e rebelde, nada mais é do que parte da minha realidade em ser um turbilhão de emoções. Então abro-me nesse espetáculo solo onde aprofundo-me no vazio de onde retorno preenchido pelo alvoroço das transformações.

- Mensageiro Obscuro.
2004.

Foto: "A Natureza das Emoções", trabalho científico do psicólogo pós-doutor (phD) licenciado Steven J. Chen.
Página do cientista: Steven J. Chen

domingo, 20 de junho de 2010

Rastejante Maldito

Faminto em profunda decadência
e miséria rasteja o trôpego,
em sua desgraçada vida
o indigente apenas existe.

Farejava dor e putrefação,
ao mastigar restos e carniça
nomeado mordazmente:
Rastejante Maldito.

Rejeitado com chorume nas veias
sua carne repuxada sustentava
uma pele cadavérica
que sorria doentemente.

Distante de nossos sentidos
a fantasmagórica criatura
desejava uma vida verdadeira
mas só levou migalhas e surras.

Morreu! Um sem-número de cabeças
observaram seus restos mortais
negando que sua origem
é o mesmo ventre nos pariu.

- Mensageiro Obscuro.
Março/2010.

Foto: "Escolhas" por William A. R. Ferreira.
Portal do artista: Will Artes

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nossas Memórias

Lembro de um banquete leve para dois,
sabores sensitivos e afrodisíacos,
a malícia de nossas faces marcantes,
bocas provocantes e corpos quentes.
Nos trajávamos com fantasias,
desejoso a abracei intensamente,
o cheiro e calor me excitaram,
seus pêlos arrepiaram
enquanto te agarrei.

Mascarada e coberta deitou-se
em meu divã enquanto a analisava
para descobrir os encantos
um pequeno corpo libidinoso,
que lentamente se despia
provocando-me com seus lábios.

Na longa e extasiante noite
chocolates derretiam aos beijos,
nossas peles atritavam-se
e atingimos o apogeu do prazer.
Acabou-se tudo, mas lembrarei
Que essas são nossas memórias...

- Mensageiro Obscuro.
Abril/2008.

Foto: Foto romântica sem referências encontradas. Adquirida no Google Imagens.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Missão Preciosa

Cadavérico e envolto em mortalhas,
ele empunhou sua foice necrótica
e montou seu cavalo fantasma.

Da interseção de luzes e sombras,
sons e silêncio mesclavam-se
anunciando sua nobre chegada.

Exterminou centenas de vidas
traçando a tênue passagem
da matéria ao espectro.

Então o ceifador sinistro sorriu,
ao cumprir sua missão preciosa
naquele conflito degradante.

- Mensageiro Obscuro.
Agosto/2009.

Foto: "Death on The Pale Horse" por Gustave Doré.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Troca de Mundos

PRIMEIRO ATO - O MUNDO DE ZILLIUM.
Em um planeta chamado Zillium várias raças inteligentes existiam, incluindo a raça omanur, composta por humanóides de peles, cabelos e olhos de cores variadas, sendo donos de poderes físicos e místicos exclusivos. O céu verde claro de Zillium entardecia mostrando suas duas luas: a minúscula e rosada Arumá e a azulada e grande Riunokô. Então, viajando pelos ares um filósofo aventureiro omanur chamado Durganara voava veloz, o vento batia em sua longa cabeleira cacheada azul com mechas roxas, seu rosto de pele muito branca e lisa gelava com a ventania, enquanto sentia o peso de seus dois grandes livros místicos na mochila presa às costas. Durganara sorria ao sentir a pressão da velocidade de voo de Nitz, seu dragão branco entediado e introvertido com um espesso bigode em sua face alongada; seu corpo era esguio com  dois pares de patas fortes e longas, com garras curvas prateadas; suas asas membranosas eram imensas com grossas membranas e sua cauda continha escamas afiadas em forma de leme. Voando pelas tão conhecidas terras eles observavam cidades e aldeias pequenas, montanhas nevadas com picos imensos, abismos sobre as planícies formando cânions, vulcões inativos e densas florestas, aquelas lindas paisagens cativavam quem as percebesse, logo sua parada estava próxima, desceria no castelo Kágura que era conhecido por ter dois imensos leques sedosos próximos à porta principal.

Durganara encontraria com seu velho amigo Eldritch, então pousou com seu dragão e desceu em um só salto contra o chão, suas pernas e botas fortes suportaram o impacto facilmente. Respirou fundo, arrumou seus cabelos, puxou sua capa e seguiu rumo ao grande portão, Nitz olhava e resmungava para que não demorasse pois estava faminto e caçaria uns krentz pelas fazendas próximas dali.

- Reikt! Quero encontrar o sábio Eldritch, ele me convidou para vir a Kágura, pois ele quer falar comigo. - Durganara sorria para o guarda Valdef, um jovem militar e grande apreciador de seus livros.
- Reikt para o senhor também! É um prazer tê-lo aqui. - Valdef deu um soco duplo fraco contra as duas mãos de Durganara que retribuiu o cumprimento, sorriram e o guarda o guiou pelo grande saguão sobre um imenso tapete verde e paredes de pedra escura. O visitante entrou em um elevador prateado a vapor, controlado por um goblin desajeitado e simpático chamado Chumerim, ele era  careca de baixa estatura como sua espécie, tinha pele verde escura, olhos amarelos pequenos, orelhas pontudas, uma boca grande com dentes pontudos e usava um uniforme preto.

- Murzam! Durga, você veio... vou lhe contar para que te chamei aqui, como bem sabe não largo os prazeres de minha introversão a não ser em casos realmente importantes. - Eldritch usava seu típico traje verde escuro com capa e um chapéu elegante e alto. Estava sentado em uma cadeira luxuosa de madeira, com as mãos sobre uma grande mesa de madeira com vários livros e pergaminhos velhos, poções, pós, pastas, incensos, varinhas, cajados e jóias nos quais desenvolvia suas pesquisas místicas.

O senhor Eldritch tinha 180 ciclos, o equivalente a metade em anos humanos, mas com aparência era a de um homem bem conservado de 45 anos de estatura mediana, pele morena escura, cabelos grisalhos ondulados e muito curtos, olhos castanho escuros e nariz comprido; já Durgana tinha seus 60 ciclos, o equivalente a 30 anos humanos com aparência de uns 16 anos. Os omanur eram a raça dominante em quase todas as áreas conhecidas e habitadas de Zillium, menos em imensas áreas misteriosas e virgens onde quase nunca nenhum homem ou mulher da raça retornou. O sábio contou sobre a mais curiosa descoberta de suas décadas de estudos e pesquisas: a existência de um mundo totalmente com uma única raça inteligente capaz dos atos mais cruéis e idiotas possíveis, com população colossal e repelta de problemas; com a ausência de criaturas inteligentes portadoras de poderes mágicos; onde existem religiões e uns seres chamados de "deuses"; fauna e flora diferenciados e agredidos pela raça dominante; e tecnologias avançadas completamente distantes do que se conhece de Zillium.

Eldritch nomeou tal mundo como "Umanir" e seus habitantes dominantes por "umanirtas", ele estava radiante, segurava os ombros do seu amigo alto e robusto enquanto falava. O aventureiro filósofo puxou um doce estrelado fosforescente de uma mesa ao lado e o comeu, as migalhas brilhavam sobre o tecido brilhoso e colante de suas vestes. Ele sorriu concordando com a missão e logo foi levado a uma sala especial no laboratório, onde Durganara vestiu um cinturão metálico prateado, enquanto isso Eldritch colocava um mochilão com equipamentos em um baú acoplado a uma grande cadeira, nela havia uma armadura metálica que estava aberta. Durganara sentou-se no artefato e esperou novas instruções do sábio inventor.

- Levei décadas para construir esse artefato que nomeie por Transferidor Essencial. Nosso mundo é limitado e talvez essa sua viagem possa nos trazer mais conhecimentos úteis, assim talvez solucionaremos nossos problemas que são mínimos comparados aos deles. Poderemos até ajudar o povo de Umanir tornando-os mais evoluídos. - Durganara ficou quieto enquanto Nitz esgueirou seu pescoço longo para a janela do laboratório-biblioteca de Eldritch e fez perguntas, obtendo respostas ficou triste por não poder ir ao curioso mundo de Umanir. Nitz despediu-se do seu amigo e voou pelos céus rumo a sua caverna gelada, que era conhecida por ter árvores imensas das quais jorravam cervejas e vinhos durante todas as semanas, por lá ele ficaria incomunicável manipulando livros e pergaminhos com seu poder mental de telecinésia, quando sentisse fome ele passaria por mais umas fazendas, sempre caçando um ou dois krentz por semana.

- Meu amigo, só confio em você para essa missão. Já sou um tanto maduro e cansado demais para encarar tamanhos pensamentos e emoções. No Transmissor Essencial, você alcançará um caminho mais longo e pesado do que conquistei ao entrar nesse artefato. Selecionei diversos equipamentos para sua viagem, creio que você enfrentará diversas coisas em Umanir. Registre esses conhecimentos e experiências para nós. - Após essa conversa Eldritch fechou a máscara da armadura, acessou um painel e recitou versos de conexão astral. Logo o corpo de Durganara vibrava com sons, luzes, frio e calor, sua viagem se iniciou para uma passagem dentro dos sonhos de alguém daquele mundo.

SEGUNDO ATO - VIAGEM DE DURGANARA À TERRA.
Minutos após, na Terra, o mundo nomeado como Umanir enfrentava guerras, ditaduras, mudanças político-econômicas, crises financeiras, corrupção, crimes diversos, degradação ambiental e tantos outros problemas no ano de 1964. Nesse mundo doente vivia um adolescente brasileiro localizado na cidade do Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro no Brasil. Seu nome era Valentino, um rapaz sonhador de 16 anos, leitor compulsivo de livros de fantasia e bastante introvertido. Ele queria muito que o mundo mudasse e por vezes se imaginava conhecendo outros mundos distantes da realidade da Terra. Sua mentalidade de mundo era pessimista, decadente, sofrida, fria, e desesperançosa; em seu semblante era notável tamanha

Em uma noite de sonhos Valentino se imaginou em Zillium, de alguma maneira chegou àquele mundo em forma de um fantasma. Poucos espíritos humanos viajaram oniricamente até Zillium. - Somente os mais fantasiosos dos humanos conseguiriam passar para aquele mundo - onde apenas alguns momentos de sonhos poderiam horas ou dias em vivência. Uma luz branca e forte saiu por baixo de sua cama, então um mochilão preto e grosso foi arremessado ao meio do quarto, logo após, Durganara também foi empurrado pela luz com a cabeça contra o mochilão; o mesmo saiu rapidamente da cama e começou a falar seu idioma; ao notar que Valentino não o entendia colocou uma tiara exótica e fina na cabeça e começou a falar em português enquanto ouvia o rapaz traduzido simultaneamente em omanurano, seu idioma natal.

- Saudações, umanirta! Sou Durganara Lumurines, vim do planeta Zillium e preciso conhecer esse mundo. Vim em paz e peço que oculte minha presença nesse plano. Seu sonho serviu de ponte para minha vinda a esse mundo. - Durganara estava tenso, não conhecia aquele tipo de quarto repleto de objetos desconhecidos, tudo era muito curioso, incluindo o rapaz não dormir com fitas roxas nos pulsos como era costume de seu povo. Explicou mais detalhes e após longas conversas optou em mudar sua aparência, então usou seu cinturão para alterar a forma, textura e cores de seu corpo e também mudou seus trajes. Valentino chocou-se com tudo aquilo, mas instigado pela curiosidade não conseguiu dormir e continuou sua conversa em tom baixo com o filósofo aventureiro, assim trocando diversas informações úteis, com isso Durganara usou um artefato que o fazia mudar a cor dos cabelos e olhos, assim como alterou a forma de seus trajes para ficar parecido com um terráqueo.

O jovem humano preparou um lanche, mas Durganara estranhou a comida de seu anfitrião ao rejeitar todos os cereais cozidos e carnes, só comendo verduras, legumes e frutas cruas com condimentos diversos, água açucarada com pitadas leves de sal. No dia seguinte ambos resolveram sair, Durganara estranhava os militares nas ruas, a barulhada de carros e motos, ruas sujas e quebradas, assim como tantas outras coisas aberrantes para um zilliano, incluindo os boatos de violência urbana e repressão de censura controlada pela ditadura militar. Através da tiara comunicadora ele gravava relatórios sobre o planeta, quando ficava solitário fazia anotações em uma tela fina e maleável, era uma espécie de pergaminho plástico mágico que saía por cima de seu cinturão e ficava em pé no ar enquanto ele escrevia, utilizando uma caneta flutuante e sem tinta. Realmente era um artefato exótico e muito útil.

Após vários dias de passeio pela Terra foi possível que Durganara conhecesse várias coisas, ele até conseguiu ler diariamente vários livros humanos, utilizando-se de um óculos especial de tradução simultânea saído de seu cinturão. Valentino queria usar o cinturão para se maravilhar com tantas possibilidades, até que seu novo amigo Durganara fez uma proposta ousada para que eles trocassem de lugar; o alienígena usaria poderes mágicos para enganar os sentidos dos pais de Valentino para que ele seguisse para Zillium, o rapaz aceitou e logo Durganara criou uma magia no chão do quarto do amigo utilizando giz de cores variadas, pedras, braseiro, um cajado, pós metálicos, palavras mágicas e algumas gotas de sangue de Valentino, conseguindo ativar um portal pela parede que sugou a cadeira onde o mesmo estava sentado. O jovem humano estava ansioso para conhecer Zillium, levou consigo alguns dos artefatos de Durganara e logo chegou ao laboratório-biblioteca de Eldritch em Kágura.


TERCEIRO ATO - VALENTINO VIAJA À FANTÁSTICA ZILLIUM.
Finalmente Valentino chegou a Zillium, aparecendo dentro do Transferidor Essencial, quando falou dentro da armadura Chumerim o recebeu, abriu o artefato e tirou-o de lá facilmente. Falaram gestualmente, então o rapaz usou uma tiara tradutora que lhe fora dada pelo seu amigo alienígena. O sábio saiu por uma porta próxima que dava para a biblioteca, ele chegou até Valentino, conversou com ele um tanto desconfiado e entregou-lhe uma carta de Durganara, ela estava em forma de um minúsculo cubo do tamanho da falange de um dedo polegar humano. Eldritch a colocou sobre a mesa e pediu que ela se abrisse, então o cubo se desmontou em um grande pergaminho retangular com cerca de meio metro e assim o sábio conheceu relatórios de seu amigo e os transcreveu para seus arquivos de estudos e pesquisas sobre o novo mundo.

Meses se passaram em Zillium, com isso Valentino treinou conhecimentos teóricos variados sob a tutela do sábio Eldritch e se empenhou em escrever as maravilhas daquele mundo; até o dragão resmungão Nitz conversou com ele, a princípio a desconfiança era mútua, mas depois o jovem conseguiu montar em sua cela e teve a experiência marcante de voar nas costas de um dragão; treinou um pouco de artes marciais em um templo localizado em uma montanha voadora; comeu doces que brotavam de vários arbustos e bebeu sucos e bebidas alcoólicas que saíam de árvores; falou com fadas, gnomos, duendes e até brincou de mímica com um fantasma brincalhão. Aquele mundo era realmente fantástico e livre, diferente da ditadura ferrenha e assassina de seu Brasil do golpe militar.

Enquanto isso, na Terra seu amigo Durganara estudava muito conseguindo aprender e ensinar facilmente, estabeleceu alguns contatos superficiais, conseguiu um emprego como técnico em eletrônica e com isso conseguiu pagar uma casa para si, forjou documentos com nome e números falsos e iniciou um trabalho de incitar nas pessoas sentimentos de liberdade, fraternidade, respeito e companheirismo entre tantas outras coisas; assim como também falava demais sobre ecologia, humanismo, ética, justiça e tantas outras coisas profundas e muito avançadas para a maioria das pessoas; Durganara até julgava medidas para mudar aquele mundo, falava sobre planejamento familiar e controle natal, métodos contraceptivos, legalização do aborto, apologia ao Estado laico, estudos sobre ateísmo e agnosticismo, estilos alternativos de vida e demais assuntos polêmicos que eram tabus na época.

Com tantas diferenças ideológicas ele foi considerado herege e ateu para a Igreja Católica, tão dominante no Brasil; assim como foi considerado anarquista, rebelde, revolucionário e subversivo para o governo militar que caçava opositores ao sistema vigente. Utilizando-se de documentos falsos Durganara criou para si a identidade de Hugo Tavares e também usava o pseudônimo Voz Rebelde com a qual divulgava seus ideais para universitários através de jornais clandestinos, certamente Durganara foi caçado pelo DOPS e fugiu ileso graças aos seus artefatos, pois não conseguia ter facilidade para fazer magias no planeta Terra onde a magia não é forte.

Os pais de Valentino o procuravam muito e já perdiam as esperanças que o filho estivesse vivo em algum lugar. Passaram-se quatro anos na Terra e oito anos em Zillium e Durganara já estava entediado e perturbado pelas coisas horrendas que conheceu na Terra, queria voltar para sua terra natal o quanto antes, até para evitar ser morto pela polícia torturadora da ditadura que estava cada vez mais poderosa e perigosa. Enquanto isso em Zillium, Valentino não mais se importava em voltar para seu planeta, já amava o novo mundo acima de tudo. Esse amor pela fantasia de um mundo mais simples passava até por cima da amizade intensa com Durganara.


QUARTO ATO - A DESILUSÃO NO BRASIL DITATORIAL DE 1968.
O filósofo aventureiro havia perdido todo o encanto pelo mundo dos humanos, pela primeira vez em sua vida começou a ter sentimentos decadentes, teve tristeza profunda, então sabia que só tinha uma chance de voltar a Zillium e era trocando de lugar com Valentino, assim ele voltaria ao seu mundo e continuaria sua vida pacata de estudos e aventuras bem mais leves que as tão perigosas aventuras terráqueas. Ele preparou ingredientes para a magia chamada Troca de Mundos, sendo que era uma magia muito poderosa e perigosa que poucos aprenderiam a preparar corretamente.

Durganara esperou uma noite de lua cheia do ano para montar sua passagem para Zillium, conferiu detalhes astronômicos e astrológicos, avaliou equipamentos de precisão e com seu cinturão foi possível começar a perceber um pequeno portal se abrir na parede desenhada. Seu cinturão apresentava sinais de falha, no decorrer dos últimos meses, até os cristais do artefato brilhavam menos, tudo por conta da incompatibilidade com a energia do planeta Terra que não recarregava corretamente seus equipamentos nos últimos meses daquele ano de 1968. Dentro de seu quarto em um bairro isolado do centro da cidade o filósofo aventureiro tentou expandir e manipular a energia mágica, no exato momento que estava com todos os aparatos para trocar de mundo sua porta trancada era esmurrada por um padre e por um agente do DOPS que o caçavam por incitar rebeldia no povo do Rio de Janeiro. Sentado a uma cadeira que servia de portal um vórtice energético aumentava revelando o laboratório-biblioteca de Eldritch. O portal cresceu e Durganara passou por ele com sua cadeira e mochilão de artefatos.

- Meu amigo, temos que trocar de lugar, seu mundo é muito louco, quero minha vida de volta. Troquemos de mundos agora, é meu último esforço, sente-se na cadeira, temos poucos minutos até que invadam minha casa e me prendam. Na Terra você se salvará pois é inocente e poderá usar uma poção de invisibilidade para fugir dos meus inimigos. Sou inimigo declarado de governos ditatoriais e empresas da fé e preciso de você para retomar minha vida nesse mundo! - Durganara estava com pressa e nervosismo, isso era raro para alguém tão equilibrado e seguro como ele, então Valentino se recusou a ir, e aproveitando uma distração do amigo que tinha deixado o mochilão e o cinturão ao chão o jogou na mesma cadeira e a trancou, acionando a alavanca de transferência do artefato; dessa forma ele retornou para a Terra, pouquíssimos segundos depois do curto momento que passou em Zillium.

Acabou-se a energia do portal e o mesmo se fechou de vez, então caído ao quarto estava Durganara com sua forma e roupas originais, o agente do DOPS e o padre que conseguiram arrombar a grossa porta, ao acenderem a luz chocaram-se com aquele ser exótico sentado naquela cadeira com uma expressão decrépita na face. Durganara na versão original era um tanto diferente do tão procurado Hugo "Voz Rebelde" Tavares, mas seus traços de cabelos longos e traços faciais se mantinham idênticos, a não ser pelas cores de pele, cabelos e olhos. O policial o tirou da cadeira, e junto com o padre atestaram que era ele mesmo o tão procurado subversivo cogitado como agitador político e aspirante a terrorista, este ainda estava atônito pela decepção com o amigo apenas chorava enquanto uma minúscula luz se apagava na parede do quarto, ele não resistiu a prisão sendo algemado e humilhado pelos dois inimigos. O padre se assustou com os símbolos místicos tão excêntricos e desconhecidos espalhados pelo chão e paredes daquele quarto pequeno e ficou em dúvida se lidava com um ateu herege mesmo ou se estava diante de um satanista.

O tão caçado Voz Rebelde sentia que estaria morto logo depois de alguns dias de tortura, vários conhecidos e colegas seus tiveram um destino terrível nas mãos dos torturadores a serviço da ditaduta. Levaram-no ao carro e ouviu diversas ofensas degradantes, mas isso não importava diante daquela dura e sofrida traição de seu amigo que o abandonou no momento mais necessário. Durganara sabia que morreria naquela semana em uma cadeia suja, mas quando esteve preso pensou muito, chorou soluçando nervosamente rangendo os dentes, dessa vez com uma mistura de tristeza, decepção, raiva e amargura e tomou uma decisão drástica.

Durganara mordeu uma cápsula que levava presa abaixo de sua língua, retirou-a e colocou entre os dentes, mordeu-a suavemente, logo sentiu uma pequena gelatina de sabor doce espalhando pela língua rapidamente. Um pouco de dor se espalhou garganta abaixo, um forte suspiro foi dado e com um sorriso o extraterrestre encerrou sua existência na Terra, Hugo Tavares ou Durganara não mais existiam. Seu corpo caiu ao chão e definhou em poucos minutos na frente de outros presos políticos, o carcereiro, que segurava um terço católico orava rápido para que aquela cena grotesca de um corpo atrofiando e apodrecendo diante dele fosse apenas uma amarga ilusão terrificante. O rebelde não sentiria mais as dores de viver realidades tão sofridas no planeta ao qual passou a odiar tantas coisas, enquanto amava outras, a grotesca dualidade lhe feria por demais. Talvez Durganara reapareceria em Zillium e expulsaria de lá seu tão decepcionante amigo Valentino, fazendo-o retornar ao seu mundo natal. Na tentativa frustrada de voltar ao seu mundo o filósofo aventureiro conheceu a traição de seu amigo, por uma cápsula ele conheceu o sabor doce da morte, talvez mesmo após todos esses elementos Durganara ainda teria mais aventuras ao cruzar a misteriosa dimensão do mundo dos mortos, mas essa não seria uma aventura qualquer, seria uma aventura além da imaginação.

Observação: Esse texto é baseado em uma conversa que tive com a escritora Rita Maria Félix da Silva.

- Mensageiro Obscuro.
Abril/2010.

- Glossário -

DOPS = Sigla criada para definir o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), foi o órgão do governo brasileiro criado durante o Estado Novo, cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder.

Krentz = uma espécie de animal primitivo de inteligência muito limitada, capaz de ser facilmente manipulado por qualquer ser mais inteligente e poderoso, mas quando reunidos em bandos conseguem ser agressivos e até perigosos.

Murzam = expressão de alegria pela chegada de um visitante.

Reikt = saudação de saúde e respeito por quem chegou, só se fala uma vez por dia para a mesma pessoa enquanto sorri e meneia a cabeça.

Telecinésia = Poder psíquico que concede a habilidade de manipular objetos à distância com comandos mentais.

Foto: "Landscapes 001" por J. P. Targete, 2007.
Portal do artista: Targete Art

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sagrada Prostituta

Uma freira desfilou sorrindo
perto de uma igreja vazia,
com seu jeito faminto e lascivo
revelou tão muda o seu erotismo.

O hábito de fé e puritanismo
amarrotava contra meu corpo,
enquanto ela ria e chorava
tocamo-nos com lascívia.

Fez do altar uma grande alcova,
profanando hóstias e vinho
para nosso banquete, assim,
transgredia como dama herege.

Libertou-se de dores e pudores
como uma sagrada prostituta
em nosso intenso culto erógeno,
tornando-me seu ídolo fálico.

- Mensageiro Obscuro.
Março/2008.

Foto: "Erotic Nun" por Clovis Trouille, 1944.
Portal do artista: Clovis Trouille

domingo, 18 de abril de 2010

Uma Carta Que Não Entreguei

          Tive uma longa conversa com um amigo na semana passada, viramos a madrugada conversando e concluímos que realmente a vida faz piadas ou tem vezes que viramos meras piadas na vida, ah... essa é uma dura realidade das piadas que fazemos e das piadas que podemos ser. Essa era mais uma daquelas tantas realidades que devo enfrentar de cabeça feita, sim, de cabeça feita. Pensei em você novamente, minha querida e ser só seu amigo é realmente perturbador, ainda é mais chato quando me dizem que sou egoísta em "amá-la desejando ser amado", como se eu devesse viver um eterno amor não-correspondido enquanto quem comentou sobre isso já tem uma relação correspondida e sólida, assim é moleza dar palpite. Já se foi o tempo em que por duas vezes eu declarei o que penso e sinto por você e ao ser rejeitado sumi de sua vida por meses, evitava te encontrar, não queria conversas longas por telefone, internet, pombo-correio, telepatia e sei lá o que mais. Talvez o meu erro tenha sido em liberar tanta intimidade para que você descobrisse os carinhos mais doces que só você sabe fazer em meu corpo, exatamente do jeito que gosto, desde as leves provocações até leves marcas em minha pele que despertam minha libido.
         As coisas que vivemos juntos foram maravilhosas, mas  sinceramente... cansei! Já te disse várias coisas, já ouvi muito mais, não vou negar que tivemos grandes momentos. Sim, tivemos várias situações marcantes: desde belos passeios com pouco dinheiro nos bolsos; as gargalhadas de minhas piadas de humor negro para você; nossas situações tragicômicas regadas a calorosos abraços e voz baixa no ouvido; a cômica situação na qual pensavam que somos namorados, que eu estupidamente queria que isso virasse realidade; e o namorico despretensioso no portão de sua casa em pleno começo de madrugada, onde nossas vozes eram tão baixas e embaladas pelos nossos batimentos cardíacos tão grudados no abraço. Não tenho como esquecer o passado, boa parte das melhores coisas do ano de 2005 até hoje foram junto com você, eu seria mentiroso se dissesse que não valeu de nada.  Você é uma mulher cativante de quem sou íntimo e isso é cada vez mais escasso, portanto não preciso disfarçar frieza a ponto de dizer que você é só mais uma distração casual na minha vida.

         Sigo parte dos meus instintos e lembro de como sofri por tentar fugir ao que realmente sou e de quem sou. Entenda que sou só um animal selvagem se adaptando a uma sociedade degradante e destroçada por sua própria espécie dominante. Você não entende o que me fez te largar ao vento como se fosse folha seca rodopiando pelo ar aos comandos ambientais, assim, tão livre e solta para que seja feliz, ou para que pelo menos busque o que te cativa. Quer saber a verdade nua? Pois eu te respondo mesmo: a verdade é que cansei de tudo isso... cansei desse jogo infantil e limitado no qual você sempre recua, somos adultos. Não te quero pela metade e minha fome de viver momentos únicos com você é maior que as parcas esmolas que você atirou nessa minha cumbuca pidona, fazendo com que eu me considere um coringa excluído sobre uma mesa de poker. Você pensa e sente coisas que sua opacidade não me permitem desvendar, e sobre tantas questões dúbias e sou um homem de certezas, justamente suas dúvidas é que me atraíram jogando-me nesses brinquedos de parque de diversões de fantasia e dor. Pode ser que eu esteja em um devaneio poético típico de um idiota que ama e só sabe nutrir amores impossíveis, daqueles que escrevem suas fantasias copiosamente, regados a música com dor-de-cotovelos e álcool.

        Desisti de relacionamentos falidos com mulheres que nunca vão me amar, nasci para o prazer e não para a o sofrimento, te  digo: amar você dói, dói pra cacete! Já conheço sua conversa sobre voltar a tentar algo diferente como apenas amigos. Quando você me disse que eu deveria dar valor a esses cinco anos de tanto contato. Tanta amizade, tanto que reprimi em mim para não te tomar aos beijos mais intensos enquanto você provocava e recuava, sei como isso me feriu. Já quis passar uma borracha em tudo, tentar começar do zero. Orgulho-me de não ter me acovardado pela timidez e orgulho típicos do meu comportamento passado. Confirmo que estou cético quanto a tudo isso, cético de verdade por duvidar de um futuro namoro com você e até sobre encontrar uma mulher com quem realmente eu combine nesse louco quebra-cabeças onde minha forma é tão exótica e não existe encaixe exato. Eu deveria ter sumido de vez da sua vida, mas atendi seus chamados insistentes e voltei a te amar de uma forma diferente de antes, mas ainda assim um amor diferente da amizade do início de tudo. Sumir de sua vida teria sido minha opção mais inteligente a seguir. Hoje eu já teria evitado todos os encontros após a segunda vez em que me rejeitou, então só assim eu estaria melhor nesse sentido.

         É melhor perder tudo de uma vez no lugar de apenas me contentar com migalhas de incertezas e tantas dúvidas, mas o passado é apenas um prenúncio de lembranças para rir ou chorar num futuro. Preparei minha cabeça para suportar toda essa carga do luto pelo Dia do Fim que durará no máximo 24 horas, onde chorarei tudo que preciso bem distante dos demais. Farei isso bebendo e comendo alguma coisa, meio que sem vontade, com uma caneta na mão e guardanapos gentilmente cedidos pelo garçom cansado e entediado que me atenderá. Escreverei uns versos e estrofes ou linhas e parágrafos nessa minha decadência momentânea e assim, contemplarei o sol se pondo belamente em tons pastéis, com a brisa marinha surrando meu rosto já molhado pelas últimas lágrimas. Realmente você não tem noção do que se passa em mim, nem saberá, pois no dia seguinte serei um homem readaptado. Claro! Não vou choramingar por causa de mulher por mais que apenas um dia. Existem dezenas de outras opções pela frente e ainda tenho mais cinco nomes de mulheres para sair, escritos naquela agenda preta pequena, aquela mesma que nunca te deixei ler. Entre várias anotações existem opções de sobressalência para passeios que misturam conversas razoáveis, risos, carinhos, algumas possibilidades de beijos e talvez umas brincadeiras sacanas para não chegar em casa completamente casto. Por isso declaro o fim desse circo onde o palhaço era eu e você era a platéia, não quero mulher-problema, quero mulher-solução e assim sigo meu caminho.

- Mensageiro Obscuro.
Abril/2010.

Foto: "Don Quixote" por Gustave Doré.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mercadores de Almas

Párias malditos, semeadores da mediocridade humana! Esses são os prisioneiros de suas crenças decadentes e vazias, tão acorrentados em dogmas e conceitos inferiorizantes. Eles são os moralistas contraditórios em negar sua realidade como picaretas e intolerantes, demonizadores de culturas, proselitistas teocratas e fundamentalistas arcaicos. Pobres seres estagnados! Tão mortificados em seu credo lixo e desasiadamente crentes no discurso apologético de um livro muito morto. Os mercadores de almas são os grandes inimigos da razão e lógica, caçadores das mentes pensantes da diversidade, são os especistas, hipócritas, demagogos e machistas, cultistas fiéis do Deus Dinheiro e seu poder distorcido que corrompeu sua essência.

Eis seu deus material e suas crias de almas viciadas e torpes de lânguidas mentes tão radicais. Vestem seus símbolos de decência, abraçando o diabo travestindo como seu deus de esterco. Em suas empresas da fé eles vendem mercadorias inexistentes assim como sua noção de realidade, então compram, vendem e alugam almas em prol de alienações. Torço pela era em que todos esses abusos históricos serão apenas páginas de um passado maldito em um mundo cada vez mais cético.

- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2007.

-- Glossário --

Mercadores de Almas = Nome pejorativo para líderes religiosos proselitistas, aplicado para definir clérigos católicos, pastores cristãos, aiatolás, gurus e assim por diante. Esse termo é associado a líderes religiosos manipuladores de massas de alienados, escravizados, manipulados e limitados pelo Sistema.

Foto: Foto satírica onde o papa Bento XVI veste-se como nazista. Encontrado no Google Imagens sem referências encontradas.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Vampiro Também Paga Conta no Bar (2ª versão)

Seu Sebastião era um homem simples, por volta de seus 50 anos bem ativos como dono de bar nas madrugadas em São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro. Um homem alto de corpo médio, pele clara, olhos castanhos apertados, cabelos ondulados muito curtos e pretos com alguns fios grisalhos e brancos, começava a ficar careca e tinha um bigode grosso e grande. Ele vestia uma camiseta verde e uma bermuda preta com frisos laterais brancos e chinelos de dedo em cor preta um tanto gastos. Esse senhor ganhava a vida vendendo bebidas e petiscos em seu boteco nas noites e madrugadas da cidade, a vida era dura, ainda mais com tantos problemas para enfrentar noite após noite naquele bairro, cada vez mais abandonado e escuro, esquecido pelos políticos locais. Era uma madrugada de sábado em agosto, quando chegaram em seu bar dois homens, que se sentaram em uma das mesas  enquanto conversavam em tom baixo. Sebastião percebia olhares de ambos para as bebidas e para ele, isso pareceu natural a princípio. 

O primeiro homem a chegar era muito alto com corpo forte, pele muito branca e brilhante, boca levemente avermelhada e brilhosa, cabelos lisos e loiros pouco abaixo do pescoço, presos em um rabo de cavalo. Vestia um camisão preto de cetim, um sobretudo de couro preto azulado que alcançava um palmo acima de seus calcanhares, calças médias de veludo molhado, cinto com fivela de prata, botas longas de couro preto azulado com bico largo e cadarços também pretos e usava um óculos escuro de lentes redondas com armação preta fosca. Já o segundo homem  que entrou no bar, também tinha rosto fino com nariz comprido, boca fina e sobrancelhas grossas, sua pele era muito clara e boca brilhosa, era mais magro e mais baixo com estatura mediana, tinha cabelos castanho escuros cacheados pouco abaixo da altura das orelhas, também usava óculos escuros de armação preta eu ocultavam seus olhos como seu colega. Ele usava um terno preto básico, com camisa branca e sem gravata, tinha uma medalha de prata ao pescoço, um anel de prata com um rubi pequeno no dedo anular da mão esquerda, uma pulseira fina trançada de ouro no pulso direito e um relógio de corrente que ficava em seu paletó.

Talvez eles fossem membros de uma banda de metal, rock, gótico ou alguma coisa alternativa que o filho do comerciante ouvia, talvez esivessem voltando de um show na cidade, em Niterói ou na Cidade do Rio de Janeiro como podia bem acontecer. Eles pediram uma cerveja que chegou bem gelada dentro de um recipiente térmico colocado em cima da mesa branca de metal, os homens ficaram ali, parados conversando baixo com seus copos e ainda estavam com seus óculos, pessoas com óculos escuros de noite era algo bem raro na cidade, logo causava estranhamento. Sebastião atendia outras pessoas, a noite estava com movimento médio com algumas pessoas sentando para comer e beber, um senhor de meia idade mal vestido e magrelo dançava ao som da vitrola na qual tocava um pagode bem pé-de-chinelo, outras pessoas riam da dança tão tosca, incluindo os misteriosos homens de preto. Logo duas mulheres chegaram, eram conhecidas no bar como vadias por saírem na madrugada em busca de homens que bancassem bebidas para elas, em troca elas ofereciam favores sexuais, era uma venda bem barata pelos seus corpos que já não eram tão grande coisa, mas ainda despertariam interesse em alguns homens não tão exigentes com padrões estéticos. Elas avistaram a exótica dupla com a garrafa de cerveja ainda cheia e logo sorriram para eles.

As moças vestiam trajes vulgares, seus modos para falar e sentar também eram bastante indiscretos apesar de uma delas estar com uma saia bem curta. Era uma moça de pele morena escura, sua pele era bronzeada com marcas de biquini de praia, com baixa estatura, corpo magro com curvas, olhos castanhos escuros grandes, boca vermelha carnuda, cabelos cacheados pretos na altura dos ombros. Vestia uma blusa modelo "tomara que caia" preta e uma saia vermelha curtíssima e colante, levemente transparente que facilmente marcava sua calcinha minúscula, levava uma bolsinha vermelha com detalhes pretos e sandálias de salto alto combinavam com sua bolsa. Sua colega era também bronzeada com marcas de biquini de praia, tinha cabelos loiros tingidos em tom muito claro em corte repicado até o meio dos seus braços, seu rosto era até bonito apesar de uma certa expressão cansada e pesarosa, seu destaque era uma boca carnuda com belos dentes, seu corpo era firme com poucas curvas com altura mediana. Usava um vestido curto branco com estampas coloridas que marcava suas roupas íntimas, sua bolsa era branca assim como suas sandálias com salto baixo.

Elas fingiram não dar muita confiança a tal dupla exótica por puro charme, então sentaram em dois bancos do balcão e ficaram conversando e rindo do velhinho que dançava ao som do pagode. Sebastião notou que a dupla sentada à mesa observava as pessoas do bar, tinha algo bem incomum na maneira como observavam os outros, pareciam esperar algo, talvez alguém ou quem sabe até estariam tramando algo. Não tinha como saber o que eles queriam em seu bar além da bebida que esquentava na mesa, eles o observavam de volta. Isso era um tanto incômodo, mas necessário para quem tem a experiência de lidar com os mais diferentes e perigosos tipos de pessoas, pois nas madrugadas da vida boêmia os tipos mais comuns e mais bizarros são visitantes corriqueiros.

Aquela pele branca da dupla de clientes lembrava uma maquiagem, não dava para saber ao certo o que eles usavam no corpo, mas era algo realmente diferente. Ele não gostava daquela aparência, lembrava as bandas Secos e Molhados e Kiss, ele não gostava do Ney Matogrosso e com certeza desconfiou daqueles jovens senhores. Finalmente aqueles dois beberam uns goles da cerveja, pelo menos o comerciante teve essa sensação ao notar os copos mais vazios assim que seus olhares voltaram para a mesa deles, o mais forte lhe deu um sorriso meio sem graça, seguido de um sorriso do seu colega, novamente Sebastião se concentrou em seu trabalho.

- Não tô gostando desses caras esquisitos no meu bar, o que eles querem? E aquelas vadias, o que fazem aqui novamente? Será que buscam cornos ricos ou clientes para programa? - pensou Sebastião lavando outros copos e separando troco para outros clientes.

Naquele momento os homens abaixaram seus óculos e sorriram para as moças espalhafatosas sentadas ao balcão, elas corresponderam aqueles olhares e sorrisos sedutores, logo se aproximaram da mesa deles que tinha duas cadeiras vagas.

- Cheguem mais, vocês estão aí sozinhas. É bom ter companhia para curtir a noite. Querem uma cerveja? - disse o homem de terno.

- Aceitamos sim, bonitão, mas essa cerveja aí tá gelada? - disse a morena de blusa e saia.

- Está sim. Bebam conosco! - o homem de sobretudo alisou a garrafa e estalou os dedos em cima do gargalo da mesma, esta gelou como se saída da geladeira.

- Hummm... que lindo, temos um mágico na noite. - disse Priscila sorrindo para a dupla sentada à mesa.

- Meu amigo também é "mágico", depois faremos uns truques para vocês. - disse o grandão de sobretudo.

- Sintam-se à vontade, são apenas 01:45 da manhã, a noite ainda será longa. Prazer em conhecê-las, chamo-me Wilson e esse é meu amigo Gilson - disse o homem de sobretudo ao se dirigir para as moças apresentando seu amigo.

- O prazer é todo nosso, sou a Patrícia e essa é a Priscila. - disse a loira de vestido para os homens de preto, ela agora tinha seu copo cheio e bebia leves goles, sentia uma cerveja geladíssima e gostosa descendo pela garganta.

- Agora as "rampeiras" sentaram na mesa deles. Tá pronta a "armação"... essas aí são golpistas mesmo, uma faz o tipo "baixinha simpática" e a outra é a "grandona pensativa". Dupla perfeita de piranhas. - pensava o comerciante enquanto servia peixe frito para outro cliente.

O grupo conversava, em poucos minutos de conversa Patrícia e Priscila se ofereciam para Wilson e Gilson, eles pareciam ir mais devagar com as investidas das moças. As conversas estavam num bom ritmo, eles pareciam mesmo bem letrados na arte de seduzir, o que aumentava a curiosidade das moças que tinham menos de 30 anos. Wilson soltou seu cabelo e abaixou um pouco seus óculos revelando um olhar penetrante, por um breve momento Patrícia suspirou ao ele sussurrar maliciosamente em seu ouvido, então Priscila arranhava de leve o anel de Gilson e queixou-se do frio de sua pele.

- Eu esquento fácil, só depende da companhia. Acha que consegue deixar minha pele quente? - disse Gilson com um sorriso lindo e malicioso olhando o pescoço de Priscila.

- Consigo esquentar muito mais do que você imagina. É só você ter um carro e local, então te esquento todinho. O que me diz bonitão? - respondeu Priscila também com um sorriso malicento, então ajeitou seu cabelo para fazer charme e fechou seu sorriso olhando fundo nos olhos do homem.

- Sim, quero que você me esquente nessa noite, mas não é hora ainda. Vamos beber e comer mais. - disse Gilson brincando com um palito de dentes que acompanhava uma azeitona em um pratinho.

Sebastião concentrou novamente atenções para aquela mesa, um clima de paquera era facilmente notado, aquelas moças pediam mais cerveja, as conversas foram evoluindo, mais cervejas e mais petiscos e os homens apenas as deixavam comer e beber. Por alguma razão eles não pareciam comer e nem beber, mas as bebidas e petiscos eram consumidos pelas moças. Ao olhar para os olhos de Wilson pela queda do óculos sua espinha gelou, sentiu um calafrio e teve a leve impressão de ver um brilho avermelhado nos olhos do homem, mas ignorou, o trabalho cansa a mente e talvez fosse um efeito do sono. O balconista saiu do balcão e foi servir mais cervejas para as moças, ao servir as bebidas Gilson olhou para seu pescoço e deu um leve sorriso de lábios fechados, aquela atitude foi inconveniente, Sebastião olhou feio para a face do homem.

- Quem esse cara é para ficar manjando grossura de pescoço de homem? Já vi viados com tara por várias coisas, mas por pescoço é a primeira vez. Será que eles são adeptos daquele tão falado bissexualismo? Que coisa chata! Com tanta mulher no mundo o que os faz olhar para pescoços de homens? Quero que eles manjem a puta que os pariu! - pensava o comerciante que se zangou com aquele costume exótico dos novos clientes.

- Esses caras tem cultura, vestem-se bem, falaram cada coisa bonita pras vagabundas que elas ficaram cheias de vontade de transar com eles, isso tá estranho, essas "vagabas" geralmente gostam de babacas. Eles nem tocaram nas bebidas e petiscos, mas elas estão bem mais "bêbas" que eles. - o comerciante se indagava sobre os visitantes que bebiam com aquelas companhias femininas tão conhecidas.

Wilson levantou-se da mesa com Patrícia e colocou uma música, era "Bark at The Moon" do Black Sabbath, seguida de "Egypt" de Merciful Fate na vitrola, o mesmo encarou o balconista.

As moças parecem não ter gostado tanto das músicas, provavelmente queriam algum pagode, axé ou funk, mas eles gostaram das músicas e elas tentaram entrar no clima.

- Que babaca, ao levantar o nariz para mim. Igual a esse "machão" tem mais 40 cornos que vem chorar nesse balcão, deixa ele... - pensava o comerciante.

Sebastião mexia na caixa registradora e sentia uma energia estranha, um espécie de leve frio nas costas subindo pela nuca, somada a uma leve agonia. Algo batia dentro de sua mente, mas essa coisa seja lá o que fosse era travada por ele mesmo. Parecia que alguma mente tentava dominá-lo, mas ele resistiu ao comando que zunia dentro de sua cabeça. As músicas acabaram e várias cervejas vazias já encontravam-se fora da mesa para evitar que caíssem, as moças estavam ainda mais bêbadas e mais espalhafatosas que de costume, os homens riam educadamente e falavam com elas em tom médio. Wilson beijava Patrícia e Priscila acariciava o rosto de Gilson, ambos os casais se levantaram e já saíam do bar de mansinho.

- E a conta rapaziada, como é que vai ficar? O papaizinho aqui tem despezas e a farra de vocês foi boa. - Sebastião encarava os casais esperando seu dinheiro.

Wilson voltou ao balcão para falar o balconista. Ele abaixou os óculos escuros e deu um sorriso para Sebastião, enquanto isso o outro rapaz pequeno, branco, de cabelos loiros curtos, olhos azuis apelidado como Mini Kurt trabalhava passando um pano no balcão e ouvia tudo calado. Usava uma bermuda marrom escura surrada, camisa preta desbotada de banda de "heavy metal" e chinelos de dedo.

- Sebastião, meu amigo... a conta fica pela camaradagem. Pela camaradagem... - Wilson com um olhar avermelhado sorria para Sebastião com sua acompanhante abraçada a ele.

- Parece medo, mas é inédito pra mim. Eles não me parecem humanos, será que são vampiros? Seria fantasia demais para acreditar, mas parece que o grandão tentou me dominar. O safado queria me ludibriar, mas não deu certo! Vi isso nos filmes que meu filho assiste! - pensava Sebastião, um pouco aflito após aqueles olhares avermelhados e logo tomou consciência do ocorrido.

- Pela camaradagem? Porra nenhuma! - gritou o balconista.

O balconista pegou um bastão de madeira improvisado que guardava atrás do balcão, mesmo sendo um homem de meia idade deu um pulo por cima do balcão bem rápido. Quando tocou os pés no chão iniciou o ataque aos homens. Patrícia e Priscila espertas como boas vadias noturnas logo se afastaram de seus acompanhantes, então o golpe do bastão de Sebastião pegou em cheio no topo da cabeça de Wilson. Este ainda ficou em pé, mas um tanto atordoado, tentou levantar o braço esquerdo para defender o segundo golpe. O balconista enfurecido foi mais veloz e acertou em cheio a sua cabeça do caloteiro novamente, fazendo seus óculos voarem enquanto ele caía quase desmaiado ao chão.
Gilson avançou para tentar defender o amigo e disse que não pagaria nada, antes que falasse mais levou uma paulada na boca, após aparecer sangue em sua boca seus caninos superiores e inferiores estavam maiores e afiados como pequenas navalhas de marfim, levou mais uma paulada só que nas pernas e tombou estatelado ao chão com sua boca toda vermelha de sangue.
As carteiras de Wilson e Gilson foram apanhadas por Sebastião que pegou cerca de R$ 30,00 (trinta reais) de cada um e jogou suas carteiras de volta para eles, ainda tontos. Patrícia e Priscila estavam assustadas e ajudavam a dupla a se recompor, eles não reclamaram e ainda tontos levantaram-se, mas elas reclamavam com o comerciante pela violência usada contra os homens.

- Vadias, vocês podem ir pro inferno, esses caloteiros podem seus seus guias pra lá. Esses caras não são gente como a gente. Sei lá o que eles são, parecem ser vampiros, olhem pros dentes e pele deles. - indicava Sebastião apontando para as peles e bocas dos mesmos e elas não viram os dentes afiados e longos, de alguma forma elas não os viam.

- Eles não são humanos! Mas tem uma coisa para eu dizer a vocês todos antes que saiam daqui antes de pagar a conta. - enfurecido com o bastão sujo de sangue Sebastião chamou atenção, outros clientes estavam assustados com aquela cena de dois homens por volta de seus trinta e poucos anos derrubados por um senhor de meia idade.

- No meu bar não importa se você é homem, mulher, viado, sapatão, traveco, político, fantasma, anjo, demônio ou qualquer outra coisa. Não tem meio-termo: ou você paga a conta do meu bar ou você leva porrada! - quase aos berros Sebastião proferia sua lei e todos se calaram.

Nunca mais os vampiros daquela madrugada de agosto apareceram no bar de Seu Sebastião, agora todos os humanos e criaturas místicas da cidade só entrariam naquele boteco com dinheiro para pagar a conta, afinal, vampiro também paga a conta no bar!

Obs.: Essa é outra versão do conto "Vampiro Também Paga Conta no Bar", em uma narrativa diferente.

- Mensageiro Obscuro.
Fevereiro/2010.

Foto: Cerveja fictícia Duff inspirada no desenho animado Os Simpsons (The Simpsons) criado por Matt Groening. Encontrada no Google Imagens na página Running Duck.De

segunda-feira, 29 de março de 2010

Guerra e Morte

 
Ele:
Correu pelas trincheiras,
furioso e indomável,
unindo amigos e inimigos
no campo de batalha.
Sorria em tons tão rubros
quanto sua armadura
atingindo as massas
com suas armas e ódio.

Ela:
Caminhava calma pelo solo
silenciosa ou barulhenta,
trabalhando entre os vivos
e levando os moribundos.
Neutra em ser seletiva,
sorria em tons tão cinzentos
quanto suas mortalhas,
escolhendo a quem beijar.

Ambos:
Com brutalidades: a Guerra.
Com mistérios: a Morte.
Entre afagos eles se deitaram
na massa de sangue e corpos,
fazendo uma alcova
para sempre se amarem
entre tantas missões.

- Mensageiro Obscuro.
Março/2010.

Foto: "Crusade - Glorious Death of de Maille" por Gustave Doré.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Meu Habitat

Corri firme pelos campos nevados das montanhas, o céu era branco e pouco estrelado, árvores, pedras, rios e lagos... congelados, algo diferente havia em mim. Sentia energia pelo meu corpo, sentia-me mais instintivo, eu mudei e buscava minha egrégora. Notei cavernas escuras e geleiras imponentes, granizos caíam como estrelas pouco vívidas, na serenidade mortífera tudo era inóspito, o frio e ventos incomodavam-me menos. Minha aventura estava mais próxima do fim, abismos e cavernas agora eram meu território.

Vivi a edificante misantropia naquele lugar incrível, lá eu era livre de fardos da humanidade. Em meu lar distante eu podia ser eu mesmo, no alto da montanha observei o abismo e senti um poder interno crescente. Rosnei e urrei, logo senti-me maior e poderoso, pesado e peludo, meus trajes sumiram, transformei-me em um grande urso polar. Descansei em uma caverna escura, dormi entre meus parentes ursídeos. Hibernei até a próxima estação, esperando por dias melhores.

- Mensageiro Obscuro.
Dezembro/2008.

Foto: Urso polar na tundra. Encontrado no Google Imagens.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Meu Quarto e Meu Mundo

Meu quarto era minha estufa ideal,
a arrumação exibia o que eu esperava.
Pensei que controlava tudo
mas nada era de meu domínio
e em meu engano me satisfiz.

Busquei montar meu mundo lá
e descobri uma região morta.
Busquei novas dimensões,
aventuras e prazeres intensos,
alcancei a vida de hedonista.

Hoje, após o pôr do sol conheço
pensamentos e emoções ocultas,
comidas e bebidas, brilhos e cores,
paisagens e coisas tão fantásticas.
sinto-me mais humano que nunca...

Limitei-me a pensar que a vida
era somente meu quarto, que erro!
Saí daquele mausoléu e o mundo é meu,
ninguém removerá essa propriedade
de mim. Não mais... não mais.

- Mensageiro Obscuro.
Março/2008.

Foto: Quarto azul encontrado no Google Imagens.
Portal: Fallen Oak Bed and Breakfast

segunda-feira, 15 de março de 2010

Fascinante Poetisa

Seus poemas me seduziram
jogando-me em outras dimensões
de maneiras tão profundas
onde não cabem as falas.

Cativa-me a cada conversa
pela sua mente sensível
como a fascinante poetisa
que desejo em dias e noites.

És fruta de aroma doce
que engana meus sentidos
em beijos e toques oníricos
capazes de erguer minha libido.

Nossos corpos separados
geram a dor saudosista
a qual terminará devagar
no calor de sua pele.

Voz e letras somam-se
aos nossos corpos,
expressando tantas coisas
somente entendidas por nós.

- Mensageiro Obscuro.
Março/2010.

Foto: Clarice Lispector quando jovem.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A Vida é Curta Para Fugir

Diante de sua presença,
pêlos arrepiam, a boca treme,
palavras não saem
e assumo o animal que sou,
tomo-a de surpresa
e arranco suas roupas,
Dominando seu corpo.
Quero seu prazer, sua entrega,
chame-me de bruto e tarado,
essa é minha forma de amar.

Continue fingindo frieza
enquanto seu jogo me excita.
Te apreciarei intensamente,
pois temos somente o agora,
Enquanto o amanhã pode ser o nunca,
lembre-se: a vida é curta para fugir.

- Mensageiro Obscuro.
Maio/2008.

Foto: "The Lady of Shallot" de John William Waterhouse, 1888.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Fúria Selvagem

Meu ódio é extenso e implacável,
é uma fera faminta e voraz
que corre sobre tua sombra.
Não espere que eu tenha piedade
ao hesitar em lhe atacar.

Em minha mente tu sofres demais,
com meus olhos calculo tua distância,
com meu nariz sigo teu rastro,
pelos meus ouvidos busco teus sons
e com minha boca hei de lhe rasgar.

Minhas mãos estão armadas,
Enquanto as pernas lhe perseguem,
chore e esconda-se
cale-se e finja que sumiu
eu vou encontrá-lo.

Tua pele será separada da carne
em uma bruta tortura sem igual.
Acabou-se tua existência!
tu és caça, eu sou caçador
essa é minha fúria selvagem.

- Mensageiro Obscuro.
Novembro/2009.

Foto: "Dante and Virgil in Hell" de William Adolphe Bouguereau, 1850.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Vampiro Também Paga Conta no Bar (1ª versão)

Esse sonho aconteceu em novembro de 2007, meu pai havia sonhado algo estranho, ele é um cara bem simples, é comerciante e trabalha a noite administrando um bar em sociedade com meu tio, sendo assim no dia anterior tínhamos assistido um filme sobre vampiros, muito ruim por sinal, mas foi até bom ter assistido o filme. Caso o mesmo fosse muito intelectualizado meu pai dormiria, não conseguindo entender menos que o esperado. Pois bem, meu pai na tarde seguinte relatou-me um sonho com vampiros, fiquei curioso para saber. Então foi assim:

"Filho, ontem a gente viu um filme sobre vampiros daí adivinha... sonhei com uns caras estranhos no meu bar, já fiquei 'cabreiro', mas fiquei na minha." - disse meu pai.

"Conte mais, quero saber os detalhes." - eu aguardava a continuação.

"Sonhei que era madrugada, chegaram dois caras, um de estatura mediana e forte e outro mais alto e magro, os dois estavam usando roupas pretas fechadas, também tinham sobretudos e calças de couro, e a noite estava quente. Pensei que deviam ser roqueiros vindos de alguma casa de show de São Gonçalo ou talvez fosse o povo daqui, que volta do Rio de Janeiro quando tem shows por lá." - meu pai se concentrou em explicar detalhes, estava sério e eu curioso.

"Os caras pediram cerveja e sentaram quietos na mesa, ficaram quietos fingindo que estavam bebendo, mas não fiquei encarando, só achei estranho... pareciam esperar algo. Continuei lucrando com as bebidas e petiscos e parei de encarar os homens estranhos. Eles tinham peles muito brancas, o tipo de pele deles era esquisito, não parecia pele comum, lembrava uma borracha fina e clara, sei lá, devia ser maquiagem de artista, tipo Kiss e Secos e Molhados." - eu ri do comentário sobre as maquiagens, ainda mais por saber que meu pai não simpatiza muito com o Ney Matogrosso.

"Os caras ficaram olhando o pessoal no bar, os olhos deles eram esquisitos e eles tentavam esconder algo na boca, pareciam que tinha comido algo com gosto ruim. Não entendi nada e continuei a lavar os copos." - prosseguiu meu pai com a história.

"Aqueles caras esquisitos finalmente beberam a cerveja, um pouco quente naquele horário, depois umas vagabundas chegaram, tinham roupas bem indecentes, eram meio 'rampeiras', mas até que tinham bom corpo, não sabia se eram 'professoras da madrugada' ou 'piranhas'. Elas sentaram na mesa deles e começaram a conversar, quando fui botar mais cerveja para eles um dos caras olhou para o meu pescoço, não gostei daquilo.
Pensei: 'vai manjar grossura do pescoço de outro homem, porra!' Logo eles conversavam e bebiam com as mulheres, até aí tudo bem." - meu pai riu com o comentário e eu ri daquela cara séria falando bobagem.

"Filho, os caras tinham cultura, falaram cada coisa bonita pras vagabundas que elas ficaram cheias de vontade de sair com eles, mas já tinham bebido bastante, estavam um pouco bêbados, mas elas estavam bem mais 'bebas' que eles. Eles eram estranhos, eu senti que eles eram vampiros, no sonho senti uma energia estranha, um mal-estar e uma certa agonia, parecia medo, mas era inédito pra mim. Não me senti bem quando o mais forte me encarou, senti que ele queria me ludibriar. Ele não conseguiu me dominar. Ele devia ter algum poder mental de vampiro, vi isso nos filmes." - meu pai ficou mais sério e eu fiquei aguardando o resultado da história do sonho.

"O outro vampiro mais magro tinha olhos castanhos, eles tinham um estranho brilho avermelhado enquanto ele andava, estava abraçado a uma das moças da mesa. Levantou com ela e foi até a máquina de música, botou um rock do Black Sabbath e ficou dançando, mas a moça parecia não gostar de rock e pediu funk.
Ele disse que conhecia um tal de 'fuck' e riu, não entendi a piada. O outro vampiro riu com da cara da moça, mas ela não percebeu que ela era a piada." - ele conteve um riso ao relatar a cena.

"O outro mais forte começou a beijar a moça na minha frente há poucos metros da máquina, depois ficou me encarando como se quisesse se mostrar o machão que agarra a mulherada. Que cara babaca. Igual a ele tem mais de 40 cornos no meu bar toda a semana." - ele riu ao contar sobre o vampiro.

"Depois cada um estava com uma das mulheres e foram sair do bar, foram sair de fininho para não pagar a conta. Eram 10 cervejas e um pratinho de azeitonas pretas, coisa barata, acho que não chegava a 30 reais de conta." - ele ficou mais sério.

"Não suportei a cara que os dois fizeram ao olhar para mim, mostraram uma boca cheia de dentes com caninos grandes e afiados e senti um calafrio, fiquei levemente zonzo e disseram para mim que eu esquecesse a conta. Que era melhor deixar tudo pela boa amizade pois a vida é curta." - meu pai ficou mais sério e agora um pouco irritado, pois odeia caloteiros.

"Filho, quando o vampiro mais forte disse isso e o mais magro riu e repetiu: 'pela camaradagem meu caro dono de bar, pela camaradagem(...)'. Fiquei puto, peguei um taco de 'basebol' que ficava atrás do balcão e pulei o balcão para bater nos dois. Bati muito no mais forte e o mais fraco tentou me desarmar, mas tomou um 'coice' no saco e ficou com a voz fininha. Sabe... Vampiro também tem saco e deve doer como na gente. - ele estava com uma mistura de raiva e entusiasmo pela narrativa da luta.

"O vampiro mais forte ficou todo machucado sangrando caído no chão, o segundo fez umas unhas longas e veio pra cima de mim para me arranhar, mas como não gosto desses travestis 'unhudos' da madrugada dei uma porrada certeira no meio da cara do puto. Foi que nem uma sinuca: ele veio com a cara como se fosse uma bola tentando avançar em mim com as garras pra frente, dei uma tacada reta no meio da cara do miserável, ele caiu." - ríamos com a história, nem os poderes vampíricos detiveram a cobrança de um dono de bar.

"O mais forte tentava se levantar quando disse que eu deveria estar dominado por eles, mas falei que homem nenhum domina o papaizinho aqui. O cara tava com a testa e a boca sangrando, foram duas pauladas bem dadas, estava tonto mas já era para estar desmaiado como o outro. Fiquei parado esperando eles levantarem, quando levantaram peguei os dois pelas golas do sobretudo e chutei os caras, primeiro o menor, depois o grandão. As mulheres ficaram assustadas com aquilo e começaram a querer defender os babacas." - eu ria com aquela descrição, devia ser uma cena engraçada, meu pai batendo sozinho em dois vampiros com um taco de 'basebol'.

"Mandei as vadias pro inferno. Disse que ninguém sai do meu bar sem pagar. Então se elas querem homens para bancar putaria seria bom que procurassem os que pagam as contas em dia, pois caloteiro é raça safada. Os caras já estavam de saída, então voltei até eles e peguei as carteiras deles." - ríamos com a história e as caretas do meu pai imitando os vampiros e vadias.

"Aqueles vagabundos e putas foram expulsos por mim, peguei a carteira dos esquistiões quando ficaram caídos na calçada. Eu disse a eles: 'vocês vão embora, a grana fica no caixa. Joguei as carteiras sem dinheiro em cima deles, eles começaram a se levantar para ir embora. A perturbação acabou." - meu pai acabou de relatar mais uma coisa importante para quem é dono de bar na noite.

"Então pai, como acabou seu sonho?" - eu estava ansioso, sentia que vinha mais uma "pérola" típica dele.

"Antes deles irem embora eu gritei firme: 'no meu bar não importa se você é homem, mulher, viado, sapatão, traveco, fantasma, anjo, demônio ou qualquer outra coisa. Você paga a conta ou apanha. Vampiro também paga conta no bar!" - assim meu pai encerrou sua narrativa onírica.

- Mensageiro Obscuro.
Março/2008.

Foto: Bento Carneiro, personagem vampiro brasileiro criado pelo ator Chico Anysio.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Saqueador de Almas

Ele dormia envolto em nobres vestes com ricas jóias, um vampiro faminto, saqueador de almas corruptas, suas habilidades e poderes são tão intensos quanto sua fome e possuía um desejo pervertido e insaciável por vidas. O Poder corria por suas veias consumindo sua sanidade, sua energia exalava terror pelas noites nebulosas de caça. O usurpador saía faminto de seu túmulo à noite, sua luxúria era saciada em caçadas por carne e sangue.

Há muitos séculos perdera seus traços de humanidade, seu Ka fora amaldiçoado, não chegaria ao Amenti, ganhou uma existência amaldiçoada pelos deuses. Agora o Egito adquiriu um novo monstro sanguinolento. Passou suas garras e presas nos corpos de suas vítimas, dilacerou carnes e ossos por fome e prazer, corpos em espasmos foram consumidos pela fera, gritos e violência contagiavam ambientes invadidos.

Sobraram paredes e um assoalho manchado após sua visita. Correu para banhar-se, ainda com mãos e lábios vermelhos. Gargalhou de si mesmo vendo seu reflexo turvo, olhou seu próprio rosto pálido e brilhoso no espelho. Na banheira cochilou como se fosse seu valioso sepulcro. Sua ira e gula fizeram-no chorar parcas lágrimas inconsistentes. Sua noite estava acabando, tinha de fugir do sol, Vestiu outras roupas e retornou voando como névoa.

Sangue corrupto era o seu alvo, o Néctar do Justiceiro, era o Saqueador de Almas, um semideus sugador de sangue. Seus leais servos enalteciam de seu egocentrismo divino, somente espíritos nobres salvavam-se de sua fome agressiva. Novas noites sangrentas ainda alimentariam o insano usurpador infeliz.

- Mensageiro Obscuro.
Junho/2007.

-- Glossário --

Amenti = Habitação dos mortos, a segunda etapa da Viagem. Morada de Osíris onde são julgados os mortos.

Ka = Estranha dualidade do morto: Alma e Guardião, Corpo Vital e Gênio Protetor.

Néctar = Alimento dos deuses. Dava imortalidade aos que o comiam e tornava-os eternamente jovens e radiosos.

Segunda Morte = Para os egípcios a morte material pouco importava, para eles era bem pior ser um espírito perverso a receber altas punições na sua pós-vida no Além, então a Segunda Morte sem dúvida era a pior punição acima de maldições divinas.

Foto: Boris Karloff como Imhotep no filme "A Múmia", 1932.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Arte, A Expressão Humana

A arte acompanha a humanidade desde o início das primeiras civilizações primitivas, somos seres sociais e gregários, devido a isso podemos notar como a expressão humana se mostra por várias maneiras, seja essa verbal, escrita, desenhada, gestual, corporal, simbólica e também artística. Não vivemos sem formas de comunicação, por isso é lógico que nossos ancestrais ainda construíam o básico de nosso patrimônio, por isso desenhavam, rabiscavam e esculpiam, então surgiu a arte rupestre.

As sociedades humanas cresceram, nômades tornaram-se agricultores, criaram-se deuses e religiões,surgiram as moedas, o comércio, as profissões, os impérios, linguagens aprimoraram-se, a população humana expandiu-se e impérios se ergueram. Líderes, gênios e conquistadores surgiram, verdades e lendas se mesclam a nossa cultura e somente a razão e lógica filtra possíveis verdades. Foram inventadas a literatura, dança, escultura, desenho e outras formas de artes, nossas expressões seguem o mesmo caminho da evolução das civilizações: com seu processo finito e expositor da realidade e fantasia de seu tempo, assim surgem novas artes, estilos, técnicas, utensílios e demais fatores.

Através dos séculos nós humanos firmamos nossa "imortalidade" (simbólica) pela memória de nossas obras para a humanidade, esta possui  personalidades marcantes nos campos das artes, filosofia, ciências e assim por diante, alguns exemplos são: Leonardo Da Vinci, Augusto dos Anjos, Renoir, Einstein, Gustave Doré, Nietzsche, Voltaire, Florence Nightingale, Lavosier, Santos Dumont, Fernando Pessoa, Edgar Allan Poe, Alexandre O Grande, Monteiro Lobato, Vlad Teppes e muitos outros. A arte é uma das mais intensas expressões humanas e ao registrar e propagar nossas mentalidades seremos imortais.

- Mensageiro Obscuro.
Maio/2008.

Foto: "Aristóteles e Platão" por Raphael Santi.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Conceitos e Preconceitos

Em nossa sociedade notamos diversos conceitos para definir diferentes temáticas do cotidiano. Os preconceitos são um terrível problema para a harmonia social, por meio de conceitos pré-modelados e discriminação é possível prejudicar várias pessoas, introduzindo nelas estigmas sociais que são um grande fator excludente.
Atualmente, da mesma forma, como em tempos passados temos conceitos que definem o certo e o errado, às vezes de forma maniqueísta moldamos extremismos para citar algo, temos por exemplo: amizade; paixão; amores; promiscuidade; elegância e assim por diante. Essas definições estipuladas e introjetadas no senso comum geram uma aversão ao novo e ao exótico, por sua vez lançam os preconceitos à tona, como tiros enlouquecidos de um franco atirador impiedoso que não escolhe alvos.

As sociedades mostram conceitos muito diversificados com relação a muitos assuntos, uma região qualquer pode conter grupos sociais liberais ou mais conservadores, ainda existem fatores que conservam as tradições e dogmas para manter as raízes de seus povos. Vários povos são oprimidos por regimes culturais fechados podendo ser sujeitos a punições se tiverem um comportamento diferente de suas tradições, dois grandes causadores desse efeito opressor são o fanatismo religioso e a cultura de massa que acabam manipulando e regendo padrões aos cidadãos tornando suas vidas uma verdadeira ditadura neural.

Perante diversos fatos e problemáticas é possível notar que o ecumenismo torna-se algo muito oscilatório tendo casos em que a aceitação dos grupos é restrita quanto a tipos aceitáveis e inaceitáveis, podendo ter regidas regras morais de níveis de aceitabilidade social, diante de uma total ignorância e um desconsiderável esforço ao tentar entender e aceitar as diferenças alheias, a sociedade mundial tem níveis de abertura, mesmo assim a receptibilidade continua inconstante e fraca, isso tudo é graças a uma grande mal interno mútuo que abrange todos nós: o preconceito.
Um dos piores sentimentos já sentidos pela humanidade que em sua tão brilhante ascendência não conseguiu destruir essa ação emotiva irracional e instintiva, consistente em temer e excluir as partes diferentes, essa temeridade é extremamente nociva e esse medo torna-nos seres socialmente pútridos e aceitamos nossos defeitos internos e não nos damos ao luxo de dar a mesma chance ao próximo.

- Mensageiro Obscuro.
2004.

Foto: Patinho amarelo sofrendo exclusão social dos patinhos pretos. Encontrada no Google Imagens. Sem referências encontradas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As Ovelhas Tolas

Um pastor muito inteligente queria engordar suas tolas ovelhas com uma ração sem sabor, mas ele sabia que elas perceberiam a falta do sabor e ignorariam a alimentação, por isso passou a mentir como induzi-las a comer mais e mais. Ele mentiu dizendo-as que a refeição seria saborosa, mas que teriam que renunciar vários prazeres para que se nutrissem dela, as ovelhas relutaram um pouco mais foram enganadas, seu fator psicológico ignorante e estagnado as condenou a sentir sabores incríveis em refeições insípidas, eis o milagre da fé das ovelhas e da astúcia maléfica do pastor, que vivia triste e queria espalhar sua infelicidade para outros seres, por isso as privou de viverem os prazeres da vida julgando-os como maus, assim teria companheiros na desgraça.
Vendo que as ovelhas eram tolas o pastor criou novas mentiras e as mentiras se intensificavam, as tolas ovelhas começam a acreditar que exista sabor na ração. Outras ovelhas, negras e cinzas alertavam as ovelhas brancas fanáticas, mas as ovelhas brancas eram ainda mais tolas e não cediam ao conhecimento da verdade sobre seu pastor, ao qual seguiam suas ordens cegamente, logo a ração não as alimentava com tanto vigor e seu trabalho aumentou escravagisticamente, o pastor cobrava novos desafios e isso doía nas ovelhas, mesmo assim elas pagavam suas promessas e o pastor felicitava-se com a tolice de seu rebanho.

As ovelhas brancas já estavam fracas, cegas, surdas, ignorantes, estagnadas e mesmo alertadas sobre as mentiras ditas pelo pastor, elas ainda se auto enganavam e o sustentavam com seu trabalho e seu culto, elas o amavam e seguiam seus dogmas malditos. Uma ovelha cinza foi chamada de herege e disse que o pastor vivia da desgraça da vida das ovelhas, impedindo que elas evoluíssem, mas a inconsciência gerada pela fé tola ensurdeceu as ovelhas brancas, evitando que pudessem saber a verdade, novamente elas estavam debilitadas.
Umas poucas ovelhas já desnutridas olharam para si e amadureceram, a maioria teve sua pelugem escurecida e viraram ovelhas pretas, tornaram-se rebeldes, sem atitude de protesto e boicote, um pouco indisciplinadas, estagnadas em seus conhecimentos e errantes quanto a sua luta, elas tendenciavam a ter uma vida pacata e bem sociável com suas semelhantes. Elas seguiram um caminho torpe e reto dentro de sua função incompreendida, mas eram bem aceitas pelas brancas, guardando seu rancor pelo pastor para si mesmas para evitar brigas.
Um número ainda menor virou um grupo seleto de ovelhas cinzas, amantes do conhecimento e da evolução, dualistas por natureza elas eram contestadoras, individualistas e heréticas ao ponto de não terem nenhum contato com seu pastor, evitando outras ovelhas, com isso tornaram-se um grupo temido mesmo sendo pequeno, a obscuridade tomava conta delas, grandes estudiosas de coisas desconhecidas e incompreendidas. Apenas o ódio e o desejo de boicote e protesto, viveram às sombras observando a queda das suas irmãs brancas sem sentir pena delas.

O pastor criou novas mentiras e desde então não parou, mas sempre teme o surgimento de ovelhas pretas e cinzas, pois elas são independentes e expansíveis, por isso ele teme que seu império caia e que as irmãs de suas tolas seguidoras venham derrubar seu rebanho impiedosamente exatamente como ele fez contra as minorias que ele jurou respeitar em seu pergaminho.
E você, que tipo de ovelha é?

- Mensageiro Obscuro.
2004.

Foto: Filhotes de ovelha branca e preta. Encontrados no Google Imagens. Sem referência.